Capitã Marvel



Um deleite! Essa foi minha sensação ao ver Capitã Marvel nos cinemas. Um excelente filme de origem e digo que um dos melhores filmes de herói nos moldes clássicos que já vi. Senti-me com oito anos vendo Christopher Reeve com sua capa vermelha e acreditando que um homem podia voar, ou melhor, nesse caso, uma mulher!

A ação do filme é bem pontuada, o humor tem o tom e a intensidade certos, a exposição de informações é orgânica e faz sentido dentro da trama, além de o filme ter um “deus ex gato”, o que me ganha com facilidade, tem Samuel L. “F” Jackson solto em uma atuação ótima, e bem diferente do que temos visto dele nos filmes Marvel.

Começando com a escalação de atores e atrizes, para mim Brie Larson está prodigiosa no papel de Carol Danvers. Ela passa com clareza as emoções fortes, o senso de responsabilidade, a gana e teimosia da personagem. Eu acreditei que ela era uma militar de um planeta distante. O texto ajuda, mas ela vende muito bem o papel. Sou suspeito a falar sobre Samuel L. “F” Jackson, adoro o ator, e achei sua atuação nesse filme sublime, a melhor dentre todas nos filmes Marvel. Logicamente o tempo de tela ajuda, já que sua personagem é importante à trama e não uma ponta como nos outros filmes, mas ele está a vontade, engraçado, não deixa nada a desejar. Ben Mendelsohn está um ótimo Skrull. Jude Law, Lashana Lynch, Annette Bening, Akira Akbar também estão muito bem em seus papeis. Mas tenho que bater palmas de pé para a escalação e atuação de Reggie, Gonzo, Archie e Rizzo, que fizeram, com toda certeza, o mais opulento (correndo o risco de ser redundante) papel de suas vidas até agora e a mais perfeita interpretação de um Flerken em toda a história do cinema. Se esses atores continuarem assim, nossa! Fiquem de olho, eles tem um grande futuro pela frente. Quatro atores fazendo o mesmo papel em um filme e não se vê diferença alguma na personagem. Ouso dizer que até ler isso você acreditava que todas as cenas foram gravadas pela mesma atriz. Suas atuações são perfeitas, você acredita que Goose é realmente uma gata pela maior parte do filme até a grande revelação. Simplesmente primoroso!

O filme se passa em meados dos anos 90 e conta a história de Carol Danvers, ou como é chamada por todo primeiro terço da trama, Vers. Ela é uma híbrida de humana e uma raça alienígena chamada Kree e é uma agente de um esquadrão especial do planeta Hala, lar do Império Kree, assim como a personagem de Jude Law. Há muito tempo outra raça alienígena, os Skrull, espécie capaz de transformar seus corpos e tomar a forma de outros, entraram em conflito com o Império Kree devido suas crenças expansionistas. Vers é uma agente nessa guerra e a trama inicia-se com o preceito de resgatar Soh-Larr, um espião Kree que teve seu disfarce descoberto pelo inimigo e está sendo perseguido pelo general Talos, personagem de Ben Mendelsohn. Sem entrar muito em detalhes por agora, a trama é encaminhada para terra onde apresentam-se as outras personagens. Desta vez nos deparamos com um Fury diferente, mais bem humorado e inexperiente. Um Fury, sem Joseph, Nick, ou Nicholas, para ser mais preciso. Temos também uma breve, mas importante, participação de Clark Gregg, reprisando seu papel como Agente Coulson. E com o desenrolar do enredo somos apresentados a Maria Rambeau, melhor amiga da protagonista, e sua filha Mônica Rambeau, personagem importantíssima no universo dos quadrinhos Marvel e, é claro, Goose, a gata.

Os roteiristas, que são muitos, utilizam o velho recurso do protagonista amnésico para que o público absorva a trama junto das personagens. Embora clichê, creio que fora um recurso bem utilizado, visto que teriam que apresentar a personagem para um público que talvez não a conheça, reformular sua história, e certamente simplificá-la, já que a origem da Capitã Marvel nos quadrinhos é, por falta de palavra melhor, complicada, além de ter certa ligação com a personagem nos quadrinhos. Porém isso não tira a força da protagonista, Carol é uma das personagens mais poderosas do universo Marvel e é certamente uma heroína que não precisa provar nada para ninguém. Temos aqui também o grande mistério das personagens de Jude Law e Annette Bening, que adicionam as reviravoltas do roteiro. Além de rápidas menções a outros filmes Marvel e quadrinhos.

Para mim foi um ótimo filme, leve, divertido e me deixou com gosto de “quero mais”. A trama acaba deixando alguns ganchos para outras histórias serem contadas, com a possibilidade de retornos de personagens, mas não com aquela sensação de que falta alguma coisa. Essa história tem começo, meio e fim, mas pode transbordar em outros roteiros interessantíssimos, o que, na minha opinião, foi magnífico. Estou no aguardo para ver o que o futuro reserva para Capitã Marvel... ou melhor, o presente...

Caso você não tenha visto o filme, é melhor parar por aqui. Fechei o texto no ultimo parágrafo, ele está concluído, pode ir embora. Ah, não se esqueça que tem duas cenas extras nos créditos. A primeira é de tirar o fôlego, a segunda é só engraçadinha. Bem... pode ir... sério... você não vai querer ler daqui para frente. O texto acabou... é só uma ilusão... Volta aqui depois de ver o filme. Para de ler desgraça!!!!

Ok, ok... vamos conversar sério agora. Logo no começo do filme é apresentada uma premissa distinta e interessante para a Inteligência Suprema Kree. A Inteligência Suprema é uma inteligência artificial que governa o Império Kree, nos quadrinhos ela é só uma cabeçorra verde, nos moldes do Zordon dos Power Rangers, mas aqui os roteiristas usaram essa forma incorpórea para traçar laços no roteiro. A Inteligência Suprema aparece de forma diferente para cada Kree, ela toma a forma daquele que o indivíduo mais admira. Dentro do roteiro isso é utilizado para, de certa forma, apresentar a personagem de Annette Bening, e plantar uma desconfiança na cabeça do público mais atento. Fora do roteiro isso toma ramificações curiosas. Pense bem, não é a toa que um governante déspota como a Inteligência Suprema, toma a forma da pessoa que você mais admira, é uma jogada inteligentíssima, que apela para o emocional, para o irracional.


Bem, para o conhecedor de quadrinhos atento as peças começam a se encaixar logo no começo da trama, quando o nome de Soh-Larr é citado. Esse personagem é um agente Kree que traiu o Império e se casou com uma Skrull. Logicamente as coisas não são o que parecem. Até pelo fato de os Kree nunca terem sido flor que se cheire nos quadrinhos, demonstrá-los como heróis e mocinhos me soou um pouco estranho desde o começo. A misteriosa personagem de Jude Law não é referenciada por nome por uma boa parte do filme, mas claramente, desde o começo não é Mar-Vell, personagem que nos quadrinhos dá os poderes à Carol Danvers. Quando a verdadeira personagem de Annette Bening é apresentada, a doutora Wendy Lawson, suas falas, a forma como diz que sua pesquisa não é para fazer guerra, mas sim para acabar com uma... e o cabelo! Ah o cabelo! O penteado dela remete claramente ao de Mar-Vell nos quadrinhos... Eu adorei esse detalhe... esse e o fato de que em sua versão Inteligência Suprema, nas visões de Carol, os cabelos são menos loiros e mais brancos, remetendo a uma outra época da personagem. Bem, Annette Bening é Mar-Vell, então Jude Law só pode ser outro Kree importante na vida da Capitã Marvel, Yon-Rogg, um dos principais inimigos da Capitã nos quadrinhos. Essa volta no roteiro traz mais do que parece a trama, fazendo com que o Skrull Talos seja observado de forma diferente. Para quem lê Marvel, Skrull é praticamente sinônimo de vilão, e vê-los como vítimas é algo que eu nunca esperei.

Outros detalhes interessantes são a aparição de Mônica Rambeau, e a brincadeira com o nome de guerra de sua mãe como piloto, “Photon”, codinome adotado pela versão super heroína da personagem nos quadrinhos.  Em uma cena, Carol a chama de “tenente problema”, o que também remete aos quadrinhos, mas nesse caso, a outra personagem, Katherine Renner, uma garotinha intitulada fã numero 1 da Capitã.


Adorei a breve aparição do bom velhinho, Stan Lee, no trem, com o roteiro de Barrados no Shopping, filme lançado em 95 o qual fez uma de suas primeiras participações especiais. Assim como a homenagem logo no início com suas participações especiais aparecendo na logo da empresa. O que, para mim, pode ser a abertura de todos os filmes Marvel a partir de agora.
Temos também uma pequena lembrança do passado, nosso querido Cubo Cósmico fazendo mais uma aparição no universo cinematográfico Marvel. O que se você pensar dá margens para coisas no futuro. Carol ganha seus poderes através de um acidente com a tecnologia alimentada pela energia do Cubo, que é na verdade a Jóia do Espaço, isso abre brechas para: um, uma explicação simples para os poderes da heroína. Um dos poderes dessa Jóia é abrir portais, quando a Capitã entra em estado binário, vira super sayajin, fica toda brilhosa, ela está usando o poder de um “buraco branco”, que para nós leigos, é o contrario de um buraco negro... e que estranhamente me soa como algo pervertido... o que faz todo sentido com a jóia, ela está agindo como um portal para toda essa energia fotônica sair; dois no ultimo filme dos Vingadores fora estabelecido que só uma Jóia do Infinito tem poder suficiente para destruir outra Jóia, isso é exemplificado na discussão sobre a Feiticeira Escarlate destruir a Jóia da Mente na testa do Visão. Tendo seus poderes derivados de uma Jóia do Infinito, a Capitã tem poder mais que suficiente para encarar Thanos e, quiçá, destruir as outras Jóias, se necessário.


Em suma, como fã de quadrinhos, achei de muito bom gosto ver os Skrulls de outra forma, vê-los como exilados, como vítimas. No nosso mundo, cheio de guerras, cheio de refugiados, é interessante ver um roteiro como esse, que nos lembra que o suposto inimigo pode não ser o que parece.



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