Tira seu microscópio da minha miçanga... ou melhor Ciências humanas: um lugar de subjetividades
Achou que este
blog era apenas sobre cultura pop e assuntos sem nenhuma relevância social?
Achou errado otário! Rogério Isso é um lugar do caos, e como todo lugar do caos
que se preze, tem de tudo nele, incluindo o tema científico. Mas os dois
malucos que coordenam essa zona são das humanas, portanto, vamos ficar mais
restritos a essa área de conhecimento. E para inaugurar esse tipo de post no
nosso blog, nada melhor do que discutir a subjetividade nas ciências humanas.
Se você é um
amante das ciências humanas, um estudante ou um profissional da área, muita
calma nessa hora. Não vou trabalhar nenhum autor neste texto, o tema é complexo,
não pretendo e nem quero esgotá-lo neste texto. Minha intenção é falar com essa
galera das ciências exatas que vem colocar seu maldito microscópio nas nossas
miçangas e dizer que o que fazemos é opinião com regras e não ciências. Então
se você é um destes malditos, sente e leia!
Vou dividir o
grupo das exatas que nos criticam injustamente em dois grupos. O primeiro grupo
vou chamar de cientista monocromático e o segundo grupo de senhores do viés
ideológico. Vamos lá:
O grupo dos
cientistas monocromáticos não são pessoas necessariamente maldosas, ou sequer
querem o nosso mal. Esses apenas não conseguem perceber outra maneira de se
fazer ciência. Na verdade, eles até entendem que a subjetividade faz parte do
processo, mas acham que a gente não faz ciência, já que não conseguimos replicar
os nossos dados em laboratório. Nos faltaria a experimentação. O problema com
este argumento é porque replicamos sim nossos resultados. Ora, quem estuda
fascismo italiano da década de 1930 consegue enxergar o mesmo processo na
Espanha daquele período, além disso, vê os sinais dos tempos neofascistas chegando.
Quem estuda Idade Média européia consegue achar as similaridades entre essa e a
japonesa. Não temos um laboratório de experimentos, nosso laboratório é a
própria humanidade. Conseguimos, nas diferentes temporalidades, encontrar
processos similares que aprofundam o nosso conhecimento sobre os próprios
fenômenos, dentro das suas diferenças. Quando estiver conversando com um membro
deste grupo, mantenha a calma e explique isso para ele, pois os mesmos tem uma
incrível capacidade de compreensão. Funciona em 90% dos casos.
E finalmente
vamos aos segundo grupo, os senhores do viés ideológico. Como você sabe, muitos
deles são eleitores do atual presidente, acreditam que o que fazemos não passa
de panfleterismo barato e que somos doutrinadores safados. Eles desconhecem que
os dados estão ali para nos convencermos de que estamos errados na maioria das
vezes, que a realidade é mais complexa do que parece, que inúmeras vezes somos
derrotados pelas fontes de nosso trabalho e temos que dizer que não entendemos
o que se passa. Mais e o viés ideológico? Existem sim profissionais das
ciências humanas que tem uma posição política abertamente declarada, a grande
maioria é de esquerda, mas existem alguns de direita também. A questão é que
estes profissionais são de primeira linha e sabem que sua posição política
influência em seus trabalhos, por isso tomam algumas precauções. Primeiro,
tornam públicas as suas posições, para que os leitores possam já saber desse
fato e tirar suas próprias conclusões. Segundo, tentam ser objetivos,
focando-se no seu problema de trabalho, tentam analisar o máximo de variáveis
relativas aquele problema, consultam outras teorias, enfim lidam com o
contraditório. Não podem ser neutros, já que neutralidade não existe.
Desmerecer o trabalho de alguém pelo seu posicionamento político é algo que não
se deve fazer. Esses profissionais são respeitados no mundo inteiro, para ouvir
de alguém um viés ideológico gritado com força, como se as aulas de empreendedorismo
dos cursos de administração fossem 100% neutros, o que é impossível.
Terminamos aqui
este texto. Agora se me permitem vou voltar a vender minha arte na praia, ops,
quero dizer escrever minha dissertação. Um abraço a todos e até a próxima!
Achei interessante essas comparações que realizou, confesso que nunca li um texto assim. Tive que ler 2 vezes para captar a mensagem e acho que consegui. rsrs Gostei da sua postagem. Valeu.
ResponderExcluiroi!
ResponderExcluirEu achei bem interessante seu texto, realmente hoje esta uma grande debate sobre esquerda e direita. O s eleitores do atual presidente só bem agressivos e ate hostil..
Que texto incrível, parabéns.
ResponderExcluirÓtimas comparações e ótimos termos utilizados. Prendeu minha atenção e me fez refletir sobre vários assuntos. Acho que muita gente deve pegar esse texto para dar uma lida
Achei o texto muito bem escrito e com pontos bem reflexivos. Gosto quando o texto consegue prender a minha atenção.
ResponderExcluirNão sou nem um nem outro, porem seu texto resumiu bem a questão de comparação sobre um todo, vai ajudar muita gente nesse esclarecimento
ResponderExcluir"nosso laboratório é a própria humanidade"
ResponderExcluirComo estudante de comunicação, preciso aplaudir esse texto! Sensacional.
É bem isso, estudamos as pessoas, percebemos padrões e fazemos nosso tipo de ciência.
Adorei.