O triste fim da marcha dos titãs pelados




Parece que foi ontem que Shingeki no Kyojin, surgiu. Aquele trailer incrível, aquela música de abertura épica. Com uma das primeiras temporadas mais estrondosas que eu já vi, mantenho esta opinião ainda hoje, com os meus 27 anos de vida. Um anime arrasa quarteirão, do tipo que não vemos todos os anos. A segunda temporada veio e, meu Deus, como foi incrível, duras revelações foram feitas e a história provou que poderia ir além. Só que veio a terceira temporada parte 1 e eu sinceramente acho que é melhor esquecermos quase tudo que vimos nela. Agora, em 2019, temos o final de sua terceira temporada, a parte 2, e eu só consigo lamentar. Este anime acabou e nos próximos anos presenciaremos uma das quedas mais brutais na qualidade de narrativa que veremos em todos os tempos…
Antes de mais nada, se você nunca leu ou viu A Marcha dos Titãs (nome do manga no Brasil), apresentarei aqui uma pequena sinopse. Neste universo, a humanidade está reclusa dentro de três muralhas de 50 metros de altura cada, uma dentro da outra. Isso porque há cem anos surgiram os titãs, enormes criaturas humanóides que comem pessoas. As tais muralhas são o último abrigo dos seres humanos, além disso, as mesmas também tem nomes próprios, sendo a primeira chamada de Maria, a segunda Rose e a última Sina. Contudo, sem que ninguém pudesse imaginar, a muralha Maria é atacada por um Titã Colossal, que quebra a mesma e permite a entrada de outros titãs no refugio da humanidade. As crianças Eren Yeager, Mikasa Ackerman e Armin Arlet, que moravam próximos a muralha Maria, veem todo o rastro de morte e destruição causado pelos monstros. O Exército Real começa então a evacuar as pessoas para dentro da segunda Muralha, mas a mãe de Eren acaba ficando para trás e sendo devorada por um titã na frente de seu filho. O protagonista então jura vingança, promete destruir os titãs e recuperar a liberdade para toda a humanidade, que segundo o mesmo, está “pressa como pássaros em uma gaiola”.
Voltando a análise vale destacar que eu não li o manga, apenas acompanho a obra pelo anime. Então você que curte o manga pode estar se perguntando, como eu sei que vai ficar ruim? Bem, primeiro porque algumas pessoas que acompanho na internet, e que tem um gosto muito parecido com o meu, já anunciam há alguns anos essa catástrofe. E sim, é claro que estas pessoas podem estar erradas, e por isso eu continuarei acompanhando Shingeki. No entanto, o segundo motivo de eu achar que este é um triste fim para obra é porque eu já vi muito anime na minha vida, já li muito manga, e sei exatamente como um Naruto, ou um Bleach, se perdem no meio da história. Infelizmente, estou vendo os mesmos sinais em Shingeki no Kyojin.
Deste ponto em diante, eu darei spoilers, se você não viu nada deste anime se vá agora… Não me entendam mal, diferentemente da terceira temporada parte 1, a parte 2 até que foi muito legal. Tivemos a volta de uma música de ação, as batalhas épicas estavam voltando e eu voltei a sentir que tudo estava em jogo de novo. Mas a parte 2 da terceira temporada é uma grande ilusão, uma falsa reabilitação de uma trama que se perdeu quando articulou um golpe de estado com meia dúzia de soldados. Como diria Homer Simpson: “é como uma grande rosquinha. Redonda, mas vazia no meio”. A música de abertura não trás nada de novo, é apenas uma versão piorada das aberturas 1 e 3, as mais amadas pelos fãs. E o que é este tudo que está em jogo? Um Eren que não sabe se está quebrado ou não? Que não passa de bonitinho segundo a sua mãe? Uma Mikasa que já não tem personalidade há tempos, a não ser pelo fato de ser uma lutadora fodona? No tocante a Jean, Coby e Sara, eles praticamente não tem tempo de tela. A Sara, por exemplo, deve ter tido três falas ao longo da temporada toda, todos estes três não passam de uma imagem distorcida dos bons personagens que eles já foram. Isso para não falarmos de Levi e Hange, que nunca foram personagens de fato, apenas avatares de força e inteligência. Os únicos que, para mim, merecem o título de personagens a está altura do enredo são Armin e Erwin, os outros já se foram.
E vejam, eu queria gostar do enredo, e acredito que ele tenha boas ideias. O debate moral entre quem salvar, Armin ou Erwin, é uma boa ideia, mas senti falta de se debater o legado do antigo comandante da Tropa de Exploração, por exemplo. A ideia de um Zé Ninguém milagrosamente sobreviver e fazer dele um herói de guerra também é boa, se este personagem não fosse a coisa mais sem graça de todos os tempos. É como se diz, de boas intenções o inferno está cheio.
Isso é claro, para não falarmos de nazismo, fascismo e nacionalismo radical. Acredito que a ficção possa falar sobre tudo, deste que com o tom certo, e eu sinceramente quero acreditar em Shingeki no Kyojin, mas racionalmente não posso negar as evidências do que vi. O militarismo sempre esteve presente na obra, mas eu entendia como parte do contexto, do background das personagens, afinal, estas são militares. O problema é que quando juntamos militarismo com nacionalismo radical, a única coisa que sobra é o fascismo. Não gente, Grisha, o pai de Eren, não é um líder comunista, ele não quer abolir a opressão, ele deseja oprimir os seus adversários marleanos, e isto é FASCISMO PORRA! Ah, mas os marleanos são NAZISTAS, sim são, afinal que nome damos a um estado que isola um povo em um gueto e o força a sair com a estrela de Davi no braço? A questão é que faltou tom de cinza nisso tudo. Todos os marleanos são nazistas de merda e a única solução é essa? O apelo para um nacionalismo cego, irresponsável e odioso como o de Grisha? E não, a história não faz isso como crítica social, porque até onde eu vi, em nenhum momento temos a contestação desse pensamento, muito pelo contrário, o roteiro os legitima. E sim, eu sou daqueles que acredita que não podemos comparar a violência do oprimido com a do opressor, mas eu não vi a personagem em busca de sua liberdade como tentou-se mostrar. Me perdoem, eu não consigo ver alguém que lutou por liberdade em Grisha, como eu via Eren na primeira temporada. Só consigo ver alguém que luta pela volta de um Império Nacional Opressor, capaz de subjugar os marleanos e nada mais.
E como tudo sempre pode piorar, temos o final do Eren. Este personagem cheio de intensidade no início do anime está melancólico e quebrado no final da terceira temporada (de novo, já que vimos o mesmo filme na parte 1). Os nossos protagonistas finalmente estão olhando para o mar, este que sempre foi o sonho deles, o representante simbólico da liberdade, está realizado. Mas Eren só consegue ver o mar e pensar nos inimigos, ele melancolicamente pensa nos marleanos, em vez de pensar que finalmente toda a verdade estava diante de seus olhos. Este que era para ser um dos principais momentos de catarse para o anime, não passa de um momento sem graça, que mostra os tristes rumos que estão no horizonte de Shingeki no Kyojin.

O texto já está enorme e é hora de terminá-lo. Já quero escrever um texto complementar para esse, mas isso fica para outro momento. No fim esta obra é um grande retrato de Eren em seu último capítulo produzido, uma história que já foi incrível, mas que hoje não passa de algo triste, melancólico e descendo uma ladeira sem volta.


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