Os contos ganham vida: The Witcher a série da Netflix
A história do
bruxo Geralt de Rívia aparece originalmente em forma de contos, escritos pelo
polonês Andrzej Sapkowski [A equipe Rogério Isso nunca vai tentar pronuncia
este nome em público] {mas eu acho que se lê “Andrei”}, ganhando posteriormente
um romance do mesmo autor, um filme e uma série poloneses {que são toscamente
maravilhosos, sem falar do musical, mas esse eu ainda não vi}, três jogos [só joguei o último e que jogaço] e agora a série da
Netflix, que será o foco deste texto. Fiquem tranquilos, este é um artigo sem
spoilers {sério, você tem que aprender a escrever “spoilers”... eu começo a
achar que você faz de sacanagem para eu corrigir toda vez}. Para quem nunca
ouviu falar desta história, Geralt é um bruxo profissional que vive caçando
monstros em troca de recompensas. Mas como nem tudo na vida é tão simples, e o
nosso herói{?} acaba por se envolver até o pescoço com uma complicada guerra
que envolve os Reinos do Norte e o Império de Nilfgaard, isso enquanto vive um
complicado romance com a feiticeira Yennefer de Vengerber.
Os roteiristas
da série tiveram a feliz decisão de fazer com que os episódios fossem
adaptações dos contos originais do bruxo, o que nos permite conhecer Geralt no
seu dia-a-dia e não o homem que a contra gosto se envolverá na disputa acima
citada. {só tenho grandes ressalvas sobre o episódio que remonta o mais
clássico dos contos, o da striga} Conhecemos um profissional que gosta de fazer
o seu trabalho e não se envolver em questões políticas complicadas, o
conhecemos antes que este conheça o seu grande amor, Yennefer, e como o mesmo
diz a sua amada: “em um tempo onde tudo era mais tranquilo”, é a este homem que
somos apresentados. Mas não, querido leitor, não estamos falando aqui de uma
série episódica, muito pelo contrário, ela tem um fio condutor muito claro, que
é a jornada da princesa Cirila, ou simplesmente Ciri, para encontrar o protagonista.
Esse inclusive é um grande elogio que tenho a esta obra, ela é redondinha,
conseguimos marcar claramente o início, meio e fim da mesma, todos se
conectando muito bem no tempo certo. Mas nem tudo são flores em relação isso,
leva um tempo para você perceber que os acontecimentos que se passam nos três
núcleos principais: Geralt, Yennefer e Ciri, estão acontecendo em tempos diferentes.
Eu levei três episódios para perceber isso com clareza e o telespectador pode
acabar ficando confuso se ficar muito tempo sem assistir a série.
Logo nos
primeiros minutos dessa obra fiquei impressionado com a belíssima produção que
a Netflix entregou para essa história. Em algumas cenas parecia que eu estava
assistindo o jogo, e fiquei com vontade de jogar sempre que os episódios
acabavam. E eu não estou falando apenas do cenário, falo também do figurino das
personagens, como eles estavam realmente incríveis e ajudam a criar o clima do
universo de Geralt.
Eu não sou a
pessoa que fica reclamando de troca de etnia de personagens e afins, não vi
ninguém reclamar disso ainda, embora eu tenha a certeza que rolou. Para quem
não sabe, a série traz alguns atores negros para interpretar personagens
originalmente brancos e a atriz que faz a Yennefer, Ana Chalotra tem
descendência indiana. Enfim não é sobre o racismo estrutural do mundo nerd que
irei discutir aqui, e sim a idade de uma atriz, Freya Allan, a Ciri. Antes de
mais nada, quero deixar claro que adorei a atuação dela no papel de Ciri, creio
que ela deveria ser escalada para ser a Ciri mais velha se necessário fosse,
contudo a personagem tem 12 anos e é interpretada por uma atriz de 18. Elogio
mais uma vez a produção de série que em praticamente todos os momentos
conseguiu fazer com que Freya se parecesse com uma menina da idade da
personagem, porém, isso não foi possível no início da história, quando a
personagem aparece “vestida de princesa”. É algo que me deu um leve incomodo e
passou rápido, e que não tira em nada o mérito da atuação da atriz, embora eu
ache a decisão da direção estranha.
Um outro ponto
que me incomodou foi a forma como os poderes mágicos de Geralt foram usados, ou
melhor, não foram usados. Para quem não sabe os bruxos do universo The Witcher
têm basicamente cinco poderes mágicos, são eles: Aard (uma espécie de vento que
empurra as pessoas), Igni (fogo), Yrden (armadilha mágica), Quen (escudo) e
Axii (dominação mental). O problema é que na série, só vemos Geralt usando
Aard. Netflix cadê os outros sinais? Espero poder vê-los na próxima temporada.
{também espero, mas como um pouco de defesa, eles aparecem relativamente pouco
nos livros também, então...}
Como eu disse no
início desta resenha, o autor dos contos e do romance que originaram a série e
os jogos é polonês e isso obviamente influencia no universo que este cria.
Pessoalmente eu não li os contos e o romance ainda, coisa que eu estou louco
para fazer, mas jogando o The Witcher III e vendo a adaptação da Netflix fica
claro que a ambientação difere muito dos mundos de fantasia medieval genéricos
escritos por estadunidenses e ingleses. O personagem apareceu a primeira vez em
1986 e este só foi ganhar o mundo com uma adaptação para vídeos games em 2007, feitos
justamente por uma produtora polonesa. Além disso, eu não sabia da existência
de The Witcher até o terceiro jogo virar o fenômeno mundial que virou. Fico
pensando, quantos bons universos de fantasia não existem por aí, esperando para
serem descobertos em países africanos, asiáticos e latino-americanos. Isso para
não falarmos do nossos próprio Brasil, que tem um bom número de escritores do
gênero. A fantasia precisa ser internacional, e não restrita a língua inglesa.
Vamos explorar?
Mesmo com alguns
leves problemas, The Witcher é uma série maravilhosa e eu já estou louco para
ver a segunda temporada. Só nos resta aguardar para vermos novamente o bruxo
Geralt de Rivia em suas aventuras ao redor desse mundo encantador.
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